Ludmila Almeida/Articulação Agro é Fogo
O ano está terminando, o agro não dá trégua e nós também não.
Está no ar a continuidade da série de videocasts (vídeo podcast) “Povos e Comunidades Tradicionais em Alerta”. Os povos da Amazônia, Cerrado e Pantanal acionam sua voz, mais uma vez, para denunciar a expansão dos incêndios, e seus tentáculos, que atuam no ciclo do desmatamento, das ações de mineração e grilagem de terras que devastam a manutenção do direito à sociobiodiversidade.
O fogo criminoso, que consolida os grandes empreendimentos no território, não pede licença aos modos de vida seculares. Frente a isso, os povos não se curvam e anunciam manejos de resistência e restauração do equilíbrio territorial que beneficia toda a humanidade.
O fogo acaba com tudo, o fogo acaba com a cura, acaba com as plantas medicinais
Apesar do período crítico que atingiu o Pantanal em 2020, que contabilizou 22 mil focos de incêndio, o maior índice em uma década, o fogo continua elevado, totalizando mais de 8 mil focos só em 2021 nesta região. Na Amazônia, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (INPE), já se contabilizam mais de 71 mil focos de incêndio só neste ano. No Cerrado, o índice acumulado entre janeiro e novembro contabiliza mais de 60 mil focos.
Socorro Carvalho, liderança no Quilombo Cocalinho, Cerrado Maranhense, afirma que a luta contra os incêndios é uma luta para a permanência dos saberes passados de geração a geração pelo uso das plantas medicinais. Para isso, toda a comunidade precisa atuar em conjunto e com cuidado para barrar o aumento dos prejuízos do fogo criminoso.
“Tem um grupo de mulheres aqui dentro, quando vê uma fumaça, a gente não vai esperar pelos homens, não. Nós mulheres, tomamos a nossa iniciativa. A gente vai lá vê, se os companheiros custar, a gente mesmo dá a iniciativa, apaga o fogo, começar a fazer o apago do fogo”.
Frente a violência dos incêndios do agronegócio, os povos continuam a reivindicar respeito e realizam táticas que evitam o avanço dos incêndios. Sabedoria ancestral que visa manter não só o território de pé, mas também os povos que ali vivem.
“O Pantanal é esse santuário que todo mundo quer visitar, mas esquecem de reconhecer a importância das pessoas, a importância dos grupos, a importância das comunidades tradicionais no uso e manejo desse grande território que é o Pantanal”, conta a coordenadora das comunidades pantaneiras, Claudia Sala de Pinho.
Parem de queimar nossas casas!
Pará e Amazonas são os Estados que mais foram desmatados na Amazônia, só em agosto deste ano somaram 60% de toda a destruição na região, segundo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazom).
Desde 2019 houve aumento dos conflitos territoriais no assentamento de Marcia Euclides de Melo, presidente da Associação Nova Vitória. No entanto, as denúncias tardam em chegar aos ouvidos públicos que não realizam atuações efetivas para garantir os direitos da comunidade.
Para permanecer no território, promover renda, alimento e assegurar a diversidade, os povos e comunidades tradicionais são forçadas a serem linha de frente. Elas colocam a própria vida em risco perante a invasão de madeireiros, grileiros, mineradoras, ações de desmatamentos e incêndios. Devastação que enriquece as empresas e empobrece, em todos os sentidos, a sociobiodiversidade da região.
Defender a permanência dos povos e comunidades tradicionais das florestas, dos campos e das águas é defender a expansão de toda a vida humana em harmonia com a sociobiodiversidade da Amazônia, Cerrado e Pantanal.
Os três videocasts podem ser acessados pelas redes sociais da Articulação Agro é Fogo, em especial, no Youtube.
Análises, pesquisas e relatos com maior profundidade podem ser acessados, na íntegra, pelo Dossiê Agro é Fogo: www.agroefogo.org.br