O combate e a prevenção às queimadas criminosas foi o assunto do encontro de saberes entre brigadistas do Cerrado, Amazônia e Pantanal
Por Rogério Albuquerque (Acesa/Agro é Fogo)
Entre os dias 15 e 21 de junho, a comunidade de Calama, localizada no Baixo Madeira, em Rondônia, sediou um Intercâmbio de Brigadas promovido pela Articulação Agro é Fogo, em parceria com a Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Rondônia, e a Associação Comunitária de Educação em Saúde e Agricultura (ACESA).
O evento contou com a participação de brigadistas indígenas do povo Kadiwéu, do Mato Grosso do Sul, e brigadistas do povo Xerente, do Tocantins, formada exclusivamente por mulheres. Além disso, líderes do povo Krahô, do Tocantins, e representantes da comunidade Quilombola Cocalinho, do Maranhão, também estiveram presentes. Quinze moradores da comunidade de Calama participaram do intercâmbio. A escolha de Rondônia se deu pelo fato de ser um dos estados mais afetados pelas queimadas criminosas, com o intuito de desmatar, invadir áreas e implantar cultivos de soja.
A Secretária Executiva da articulação Agro é Fogo, Barbara Dias, destacou a importância da troca de experiências entre os participantes como sendo fundamental para lidar com a devastação ambiental.
“A ideia é que essas brigadas possam interagir e fortalecer-se em conjunto com a comunidade de Calama, além de conhecerem diferentes realidades que também são impactadas por incêndios criminosos e pelo fogo descontrolado”, conta.
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As voluntárias, os voluntários e as brigadistas e os brigadistas tiveram, ainda, a oportunidade de visitar uma área para demonstração prática do uso de ferramentas. E exercendo a educação ambiental na comunidade, também foi realizado uma visita à Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio General Osório, onde conversaram sobre a importância de preservar a natureza e, em seguida, compartilharam uma dança tradicional conduzida pelo povo Xerente.
Larieny Smikady Xerente, da aldeia Ktēpó, no Tocantins, falou sobre a brigada feminina, ressaltando a importância de seu trabalho.
“Atualmente, somos sete brigadistas, mas queremos que mais meninas se juntem a nós para dar continuidade a esse trabalho, porque o que esperamos é um futuro em que o verde continue e o fogo seja controlado, para que não tenhamos grandes desastres que afetem nossas vidas, casas, roças, parentes e familiares”, ressalta.
Patrícia, moradora de Calama, enfatizou a importância da oficina para adquirir conhecimentos sobre o combate às queimadas e preservação ambiental.
“A oficina foi importante para adquirirmos mais conhecimento sobre como lidar com o fogo e preservar nosso planeta, que está pedindo socorro. Espero que essa oficina tenha nos conscientizado sobre o que é bom para nós, para a nossa natureza e para nossa comunidade”, relatou.
Durante o evento, temáticas como: os impactos das queimadas criminosas e o avanço do agronegócio na região, orientaram o encontro. A importância de unir esforços para preservar o meio ambiente e garantir um futuro sustentável para as comunidades ribeirinhas do Baixo Madeira teve destaque nas rodas de diálogos.
“Nosso grande sonho é estabelecer uma brigada aqui para preparar a comunidade não apenas no combate aos incêndios, mas também na prevenção e no trabalho com questões ambientais, como organizar nossa própria produção“, afirmou Luciomar Monteiro, agente da CPT e morador de Calama.
“Através desse intercâmbio e da presença dos brigadistas, estamos montando uma equipe aqui no distrito de Calama e recebendo orientações sobre como estruturá-la e contribuir para a formação da comunidade local, tanto em atividades de combate aos incêndios florestais quanto na conscientização da população”, conta Roberto Ossak, articulador da CPT de Rondônia.
O Intercâmbio de Brigadistas fortaleceu as ações de combate as queimadas criminosas na comunidade de Calama e demonstrou o compromisso com a preservação do meio ambiente. Com a formação de uma brigada local e o compartilhamento de conhecimentos, a comunidade está mais preparada para enfrentar os desafios e construir um futuro sustentável.
“Agradecemos a todas as organizações que estiveram presentes, apoiando os companheiros que vieram de fora dos estados para contribuir nesse debate. Estamos de portas abertas para receber mais companheiros nessa luta. O que precisamos é construir uma comunidade resistente, empoderada, capaz de lutar por seus direitos e conquistas. Somos comunidades tradicionais e precisamos viver em harmonia com a floresta, devolvendo para ela e para as águas o que elas precisam”, finaliza Luciomar Monteiro.