Por CPT Goiás
Com apoio logístico de fazendeiros, PM-GO realiza operação arbitrária e destrói barraco dentro de pré-assentamento. Comunidades acampadas em várias localidades relatam ser alvo de perseguições.
Sem ordem judicial e mobilizando um comboio formado por 16 viaturas e por máquinas agrícolas disponibilizadas por fazendeiros da região, a Polícia Militar do Estado de Goiás (PM-GO) realizou operação arbitrária no Projeto de Assentamento Ana Ferreira, no município de Ipameri (GO), na última sexta-feira, 17.
Segundo relatos, o operativo chegou ao P.A. no final da manhã, e adentrou uma parcela de terra, onde havia uma família acampada. Sem apresentar nenhum documento, os policiais acusaram-na de esbulho e ordenaram a desocupação imediata do barraco construído na área.
Com truculência, intimidações e agressões verbais, policiais impediram a família de se comunicar com o restante da comunidade e de se defender da acusação, mantendo-a em cárcere privado por várias horas.
Ao saber da operação, famílias vizinhas foram até o local e apresentaram o mapa da área, elaborado pelo Incra, comprovando que a parcela de terra em que a família vivia faz parte do acampamento e está destinada para moradia e uso agrário. A polícia passou então a acusar a família de crime ambiental e, mesmo diante da ausência de evidências que caracterizassem o crime, efetivou a destruição do barraco com uso do trator e da retroescavadeira que acompanhavam as viaturas.
Dois membros da família despejada foram conduzidos por policiais para a delegacia de Catalão (GO) para prestar depoimento. O escrivão demonstrou estar diante de um procedimento policial atípico e não realizou registro de ocorrência. A família foi liberada por volta das 23 horas e pôde voltar para o pré-assentamento.
(Imagem: Divulgação)
Comunidades acampadas em várias localidades do estado relatam ataques e perseguições
Nas últimas semanas, vários acampamentos de trabalhadores rurais relataram ataques, abordagens policiais arbitrárias e monitoramentos por parte de agentes públicos e privados no estado de Goiás. No final de fevereiro, em Jussara, barracos de um acampamento foram incendiados, horas depois de uma abordagem policial e, em Jataí, um acampamento teve barracos destruídos e soterrados por máquinas da empresa concessionária da BR-364.
Leia mais em: Acampamentos sofrem com ataques, intimidações e ações de monitoramento em Goiás | CPT Goiás (cptgoias.org.br)
Várias outras comunidades, em diversas localidades do estado, relatam que as abordagens intimidatórias, com coleta de dados pessoais das famílias acampadas, têm sido frequentes. Organizações de trabalhadores rurais do estado e movimentos sociais do campo denunciam perseguição e criminalização dos grupos que atuam pelo direito de acesso à terra por meio da Reforma Agrária.
“Essas abordagens desrespeitam as famílias, e elas estão ali apenas para garantir o seu direito, porque têm esperança e sonham em ter um lugar para morar e trabalhar”, avalia Antônio Chagas, coordenador da Federação de Trabalhadores na Agricultura Familiar do Estado de Goiás (FETRAF-GO)
A coordenação estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST-GO) afirmou que a arbitrariedade nas ações da polícia militar do estado, em articulação com grandes proprietários de terra, não é novidade, mas ganhou força recentemente.
“Desde o início do governo Caiado estamos passando por um processo de perseguição aos acampamentos e lideranças populares – não apenas do MST, mas também de outros movimentos e organizações sociais. E o objetivo tem sido nos criminalizar”, afirma a coordenação do MST-GO.
Projeto de Assentamento Ana Ferreira
O Pré-Assentamento Ana Ferreira localiza-se na antiga Fazenda Buriti/Corumbá Velho, na zona rural de Ipameri, no sudoeste goiano, um latifúndio que, além de improdutivo, foi denunciado por atividade carvoeira, com emprego de mão de obra análoga a escravidão, e condenado. Em 2016, o Incra, que havia declarado interesse em destinação da terra para Reforma Agrária, conseguiu imissão de posse da terra e, após vistoria, 45 famílias foram pré-assentadas na área. Mesmo enfrentando ameaças de despejo, devido a ações judiciais de fazendeiros que seguem brigando pela terra, as famílias seguem em resistência, por seu direito de permanência na área onde vivem e produzem há quase 7 anos.
“Nossa resistência sempre foi pelo direito de acesso à terra, mas também para denunciar os crimes cometidos por latifundiários. Denunciamos não apenas a improdutividade, mas também os crimes ambientais, os crimes trabalhistas, o trabalho escravo, as contaminações por agrotóxicos”, explica a coordenação estadual do MST-GO.